quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Meu Manancial .




Quais os 3 (três) CDs/LPs que mais marcaram a tua vida ou influenciaram a tua carreira musical ou profissional que tu recomendaria para qualquer gaúcho ouvir?

Bueno como responder está simples pergunta na sua grande complexidade, talvez terei que povoar meus olhos  com as imagens do tempo e retroceder alguns anos atrás quando tive meus primeiros contatos com a nossa sonoridade . Pelo acaso , ou talvez destino me vi indo a uma tertúlia que havia no CTG Rodeio de Encruzilhada na cidade encravada na serra do sudeste chamada de Encruzilhada da Sul onde me fiz nascimento 
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Era um setembro de 1999, antes das tradicionais apresentações de dança no CTG referido por respeito as tradições farroupilhas muito fortes naquela terra , antes da dança convidaram alguns músicos locais para uma apresentação, entre eles estavam Tiago Oliveira e Silvério Barcelos , hoje grandes amigos que tenho , na época pela pouca idade não os conhecia bem , entre alguns milongas e chamamés apresentaram uma obra que até então não conhecia , chamada de “Quando o Verso Vem Pras Casas”   ( hoje clássico nativista ) naquela época estava sendo lançado o disco Quando o Verso Vem Pras Casas com poemas de Gujo Teixeira nas vozes de Luiz Marenco e Jari Terres . Aquela sonoridade ouvida naquela noite fria dentro do CTG Rodeio de Encruzilhada mudaria a minha vida hoje bem mais tarde . Alguns dias depois daquele fato , procurei um amigo chamado Luiz Fernando Santos e comentei sobre a obra que havia escutado , então este amigo que o tempo nos fez irmãos de pampa e alma me emprestou o disco e mais alguns de festivais , que tinha por ser apreciador do nativismo .
Ao ouvir aquele disco ( hoje percebo que “ Os Versos Voltaram Pras Casas “, as do coração ) acredito que não só este CD da vasta coletânea musical deste cantante divisor de águas na minha humilde opinião ,  chamado de Luiz Marenco deve ser apreciado e compreendido. 

Divisor de águas pelo fato de como outros tantos antes dele , reformulou o modo de cantar a nossa música regional , batizada de nativista.



Depois que conheci  este CD comecei a procurar por outros e fui montando meu acervo musical  lá por 2002 fui regalado com um disco chamado De Terra , Campo e Galpão de um cantor chamado Roberto Luçardo da cidade gaúcha de Piratini , já pela capa do disco anuncia sua ligação ancestral com os antigos habitantes dessas terras sulinas , soldado farrapo a vestir chiripá e chapéu pancha de burro e botas garrão de potro a montar um lindo zaino . Apezar de toda aquela antiga figura   trazia em si  um cantar de hoje puramente ligando ao seu chão com requintes universais em seus arranjos e melodias bem trabalhadas ligando o  regional do poema de Guilherme Collares “eu trago a mesma figura dos retratos dos antigos”  ao arranjo universal de Daniel Zanotelli para os versos da alma de Martin César Gonçalves “ quando a tua saudade faz cair a tarde lá no arvoredo , sei que o inverno com seus olhos ternos veio mais cedo “

Com este CD encontrei um canto igualmente puro e terrunho, cantar nativo , mas o que me chama atenção cada vez que escuto este disco é a sensibilidade poética musical entranhada em seus acordes e versos que ganharam vida e na voz do cantor Roberto Luçardo . Escute e tire tuas próprias conclusões 
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Seguindo nesta peregrinação de desvendar o nosso vasto cenário musical continuei a procurar novos cantores , novas musicalidades até que então veio se fazer “ Querência e Caminho” um cantar de fronteira ,um sotaque que nos remete ao mais antigo canto pampeano imortalizado nas gargantas cantadeiras dos tantos charruas guerreiros . Falo de Lisandro Brião Amaral , hoje conhecido pela assinatura de Lisandro Amaral , o CD Querência e Caminho , 2° disco deste cantor e poeta de Bagé é um passeio em imagens de outros tempos , a sonoridade tão nossa da guitarra ponteada, da cordeona cantadeira guardando a alma dos galpões .



 Em seus versos , que prefere dizer nossos , pelo fato de depois de feitos não serem mais seus e sim das páginas de nossa história musical , se vê a inspiração maior de um gaúcho “povoeiro” citadino , que aprendeu a ouvir os chamados do coração , e buscou nas imagens que lhe viam aos olhos retratá-las em forma de poesia musicada , compreendendo que a simplicidade de um verso pode ser mais que o universo !  “eu que venho de cruzada desgastando nazarenas matrereio as mesmas penas deste rancho a desabar tenho ausências no olhar e a alma a sombra do versome sinto mais que o universo quando me ponho a cantar”

Desvendem os mistérios deste gaúcho de canto ancestral que registra seu tempo pelas imagens que lhe vem aos olhos de hoje .

2 - Qual o festival de música gaúcha que mais marcou a tua vida?

Sem dúvida , respondo 23° Reponte da Canção de São Lourenço do Sul.

Mas para que os amigos entendam , volto ao tempo lá para minha querida Encruzilhada do Sul  onde muitas vezes ouvi tantos festivais pela parabólica , é isso mesmo gauchada a Rádio Rural de Porto Alegre não sintonizava lá pelas casas , então o jeito era improvisar mudar o áudio da parabólica e assistir a programação do canal e ouvir as transmissões dos festivais por ali mesmo. Nesta época a equipe de festivais contava com a jornalista e hoje cantora Shana Müllher , além de estar na equipe de festivais Shana apresentava o programa Na Estrada Dos Festivais juntamente com o cantor Vitor Hugo , e era de meu costume ouvir este maravilhoso apanhado de canções pelas tardes das 14h às 16h . Nessas volteadas que a vida nos dá , viemos embora para Santa Cruz do Sul  e  aqui nem pela parabólica conseguia ouvir o jeito foi ficar longe dos festivais . Até que começou um movimento muito grande de divulgação do nativismo através da internet liderado por dois Blogs , Pulperia e Apaisanado onde eu buscava freqüentemente informações para me manter atualizado . Numa dessas conheci alguns amigos em Santa Cruz do Sul que apreciavam os festivais , um deles “Iran Pas” que recentemente nos deixou , este amigo apresentava um programa sobre festivais na Rádio Comunitária de Santa Cruz do Sul e estava procurando mais alguém para ir junto a São Lourenço . Pelo meu gosto por festivais fui junto. Chegando em São Lourenço do Sul , ele me disse que eu seria comentarista do festival junto , no início meio que me assustei porque nunca tinha feito algo parecido. Mas no final foi tranqüilo , eu estava ali vendo todos aqueles cantores que eu escutava pelo rádio e entrevistando eles , entre os entrevistados estava a então cantora Shana Müllher  a qual ouvi tantas vezes pelo rádio. Grande emoção senti por aquele regalo de estar ali .

Olhando para estas palavras que relatam  uma breve passagem da minha vida , fico até emocionado de em tão pouco tempo estar trabalhando no que gosto , e principalmente contribuindo com este ciclo cultural do meu estado chamado Festivais Nativistas .

Hoje do lado de cá do Rádio !
Matias S Moura .
  
   

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